Quando um casal não utiliza nenhum método contraceptivo, mantém relações sexuais frequentes e está tentando engravidar há mais de um ano sem sucesso, faz-se necessária uma avaliação para identificar o problema, que em um terço dos casos pode ser um fator masculino.

Os fatores que deixam o homem infértil, na maioria dos casos, têm origem no organismo do paciente. Porém, há situações em que a causa da infertilidade masculina tem origem externa, ou seja, está diretamente relacionada com o seu estilo de vida.

Considerando que infertilidade masculina tem diversas causas, vamos dividi-las em 4 grupos:

  1. Idiopática (sem causa identificada):

 Mesmo com a utilização de diversos meios para investigar a causa da infertilidade masculina, ela não é identificada em aproximadamente 34% dos casos.

  1. Distúrbios testiculares: 

Em alguns casos, o problema pode estar nos testículos. É justamente neste órgão que incide a maior causa de ausência de espermatozoides. O distúrbio testicular pode ter origem congênita (desde o nascimento) ou adquirida ao longo da vida.

Varicocele: A varicocele é uma condição causada pela dilatação das veias testiculares — algo similar ao que ocorre nas pernas por conta da trombose, por exemplo. A condição afeta a qualidade e quantidade de espermatozoides produzidos, mas é majoritariamente assintomática e costuma ser de difícil identificação por parte do paciente. É justamente a varicocele a causa mais comum de infertilidade masculina passível de ser corrigida (30% a 35 %) e também a causa mais comum de infertilidade adquirida (75% a 85%).

Cirurgias/Infecções/traumas testiculares: No caso de cirurgias inguinais, o impacto na eliminação de espermatozóides pode acontecer por conta da obstrução dos ductos deferentes. Dos adultos infectados pelo vírus da caxumba, 25% podem desenvolver orquite (inflamação no testículo). Destes, dois terços são unilaterais e um terço bilateral. Os traumas testiculares podem ser tanto físicos quanto térmicos. 

Criptorquidia: situação em que os testículos não descem para a bolsa testicular permanecendo no canal inguinal ou na região do abdômen.

Drogas: As drogas ilícitas em geral prejudicam a qualidade seminal. No caso da maconha, o seu consumo pode dobrar as chances de homens com menos de 30 anos produzirem espermatozoides defeituosos – o que diminui sua fertilidade. Se tratando da cocaína, muitos estudos têm verificado que usuários crônicos podem apresentar múltiplos defeitos nos espermatozoides, como redução da motilidade, diminuição na quantidade e maior risco de anormalidades morfológicas. 

 Substâncias tóxicas: Exposição a pesticidas, radiação, alguns solventes e benzeno podem aumentar risco de infertilidade no homem.

 Álcool e cigarro: O álcool e o fumo podem afetar a qualidade sexual e a    capacidade de concepção no homem podendo desenvolver problemas de fertilidade.

Síndrome de Klinefelter: é uma anomalia do cromossomo sexual, na qual o homem nasce com dois cromossomos X (ao invés de um) e um Y (XXY). A síndrome de Klinefelter é a alteração genética mais comumente encontrada nos homens com azoospermia (ausência de espermatozóides no ejaculado) não obstrutiva.

           Microdeleção do cromossomo Y: O cromossomo Y define o sexo masculino e é o menor cromossomo do genoma humano, possuindo 2 braços curtos e 1 longo, o qual divide-se em 3 regiões conhecidas como AZFa, AZFb e AZFc. Essas regiões possuem informações genéticas responsáveis pela produção e maturação dos espermatozoides. A microdeleção ocorre quando há ausência parcial ou total dessas regiões.

3. Distúrbios do hipotálamo e/ou hipófise:

Semelhante à mulher, o hipotálamo (estrutura do sistema nervoso central) secreta o GnRH, hormônio responsável por estimular a hipófise para secretar FSH (hormônio folículo-estimulante) que estimula as células de Sertoli dos testículos a produzirem os espermatozoides e LH (hormônio luteinizante) que sinaliza as células de Leydig dos testículos a produzirem testosterona. Assim, alterações tanto no hipotálamo quanto na hipófise, podem causar alterações na produção de espermatozoides devido à estimulação hormonal inadequada. Essa alteração é conhecida como hipogonadismo hipogonadotrófico e suas principais causas são:

  • Tumores de hipotálamo e hipófise (ex: craniofaringioma, macroadenoma)
  • Uso de corticoides e opioides
  • Hiperprolactinemia
  • Síndrome de Kallmann 
  • Uso de anabolizantes
  • Obesidade
  • Mutações genéticas raras
  • Uso de análogos do GnRH (ex: tratamento do câncer de próstata)

Nos casos acima, os níveis de FSH, LH e testosterona estão baixos.

4. Distúrbios no transporte do sêmen

  Muitas vezes a produção de espermatozoides está normal, mas há problemas na sua liberação devido a obstruções e disfunções:

  • Ausência congênita bilateral dos ductos deferentes (CBAVD): os ductos deferentes realizam o transporte dos espermatozoides dos testículos para a via de saída, passando pelas vesículas seminais e próstata. Em torno de 1% dos homens inférteis nascem sem esses ductos, causando azoospermia. O diagnóstico de CBAVD é clínico e a maioria destes homens são portadores de mutações no gene CFTR. A investigação da mutação deste gene deve ser feita na parceira para evitar o risco de transmissão da fibrose cística para os filhos;
  • Infecções: clamídia, gonorreia e outras bactérias podem causar inflamações e obstruções no trajeto do sêmen;
  • Disfunção ejaculatória: principalmente quando decorrente de lesão de medula espinhal por traumas ou por doenças como diabetes descontrolada e esclerose múltipla. Cirurgias de próstata, simpatectomias, algumas cirurgias abdominais ou pélvicas e alguns antidepressivos podem ser a causa da ejaculação retrógrada (ejaculação em direção a bexiga) ou anejaculação (ausência de ejaculação); 
  • Vasectomia: causa frequente de azoospermia obstrutiva;
  • Distúrbios da motilidade do espermatozóides.
  • Cirurgias testiculares;
  • Alterações na anatomia do pênis como fimose, curvaturas penianas, hipospádias e epispádias.