É amplamente reconhecido que a saúde durante a gestação desempenha um papel fundamental no desenvolvimento e bem-estar do bebê.

No entanto, é igualmente importante destacar a relevância da saúde dos pais nos momentos que antecedem a concepção: a fase pré-gestacional.

O foco muitas vezes recai sobre a saúde materna, negligenciando a contribuição vital do pai para a saúde do futuro neonato. A revista The Lancet, por meio da série “Preconception health” (Saúde pré-gestacional), explora fatores relacionados à saúde de homens e mulheres nesse período, delineando seu impacto na saúde materna e infantil.

A Fase Pré-Gestacional: um Período Determinante

A fase pré-gestacional, geralmente definida como os três meses que antecedem a gestação, é um período biologicamente sensível. Envolve eventos determinantes como a fertilização e o desenvolvimento inicial do embrião. Esses eventos são suscetíveis a influências ambientais, como a disponibilidade de nutrientes e exposição a substâncias prejudiciais, podendo afetar a expressão genética e ter repercussões ao longo da vida.

Principais Fatores que Influenciam a Saúde da Criança Sobrepeso e Obesidade:

Homens: a obesidade paterna afeta negativamente a qualidade e quantidade de espermatozóides, aumentando o risco de doenças crônicas ainda na fase embrionária.

Mulheres: a obesidade materna pré-gestacional está associada a complicações como pré-eclâmpsia, diabetes gestacional, obesidade infantil e outras.

Desnutrição: A desnutrição materna, de forma global,  tem sido associada  a resultados adversos ao nascimento, incluindo baixo peso ao nascer, parto prematuro, pequeno para idade gestacional, aumento dos riscos de doenças crônicas pós-concepção e até a morte do bebê.

Deficiências Nutricionais

A nutrição enfrenta desafios quando se trata das deficiências nutricionais. Por um lado existe a desnutrição, também chamada de FOME OCULTA, que ocorre quando a qualidade dos alimentos que as pessoas ingerem não atende às necessidades nutricionais.

Do outro lado existe o aumento das taxas de sobrepeso e  obesidade. Em ambas situações, as deficiências nutricionais podem estar presentes,  seja pela falta dele (alimento) ou pela má qualidade do mesmo.

As necessidades de nutrientes aumentam durante a gravidez, especialmente de certos nutrientes como folato, ferro, iodo e cobre.  

Contudo, deficiências de micronutrientes como vitamina A,  vitamina D, cálcio, ferro, zinco,  complexo b, ômega 3, colina, selênio e  magnésio também estão associadas a diversos problemas, como restrição de crescimento fetal, pré eclâmpsia, risco de abortos, bebês pequenos para idade gestacional, bebê nascido morto, autismo e defeitos do tubo neural.

O uso de suplementação deve ser cuidadosamente avaliado através de resultados de exames de sangue e histórico alimentar, onde o nutricionista avaliará cuidadosamente a necessidade ou não de suplementação.  

Dada a alta carga de complicações na gravidez, a suplementação nutricional é uma maneira segura e econômica de reduzir o risco de resultados como pré eclâmpsia, diabetes mellitus gestacional, crianças pequenas para idade gestacional entre outros.

Recomendações para a Fase Pré-Gestacional

O cuidado com a saúde e nutrição dos pais é fundamental nesse período. Algumas orientações incluem:

Estilo de Vida e Estado Nutricional:

Padrões alimentares saudáveis até 3 anos antes da gravidez desejada estão associados ao menor risco de complicações gestacionais.

O incentivo à atividade física estimula e reduz riscos de diabetes gestacional e pré-eclâmpsia, por exemplo.

Alimentação Saudável e Nutrição na Pré-Concepção

A dieta impacta diretamente na qualidade dos espermatozóides e óvulos. Estudos mais recentes evidenciam que uma dieta com menor quantidade de proteína animal, especialmente de carnes vermelhas (ricas em gorduras saturadas) é benéfica para a fertilidade do casal. Proteínas de base vegetal ou carnes brancas devem ser a maioria.

O excesso de carboidratos também deve ser evitado. Além de causarem excesso de peso (o IMC saudável é essencial para a preservação da fertilidade), causam resistência à insulina podendo levar a diabetes e aumento de inflamação como um todo no organismo.

Alimentos como presunto, mortadela, peito de peru, salaminho, inteferem na contagem de espermatozóides, diminuindo motilidade e produção.

A preferência por alimentos orgânicos e “in natura”, evitando ultraprocessados, pode favorecer a fertilidade e contribuir para um desenvolvimento saudável.

A dieta mais indicada para otimizar a fertilidade do casal é aquela rica nutricionalmente, onde a base maior deve ser de vegetais e  frutas, além de sementes, oleaginosas, gorduras boas como o azeite e o aumento do consumo de carnes brancas, como os peixes. 

 A suplementação pré-concepção, feita de forma individualizada tem por objetivo compensar possíveis deficiências nutricionais que possam estar dificultando a concepção, além de auxiliar no tratamento de patologias associadas à infertilidade como endometriose, SOP e envelhecimento ovariano e estresse oxidativo. 

Quanto mais precocemente o casal realizar o ajuste alimentar é possível a suplementação, maiores serão as chances do resultado positivo. O ideal é no mínimo 3 meses antes das tentativas iniciarem.

Os óvulos e espermatozóides (ajuste hormonal) levam de 2 a 3 meses para otimizarem suas funções. Além disso, a suplementação apenas durante a gestação pode não garantir benefícios ideais para a saúde do bebê. Prevenir é a melhor solução.

Nutrição Pré-Gestacional e Patologias Específicas

Algumas patologias estão diretamente associadas à infertilidade, tanto do homem quanto da mulher.

No que se refere aos homens, o estresse oxidativo é um dos maiores vilões, pois ele é capaz de alterar morfologia e função dos espermatozóides, levando à dificuldade de reproduzir. No corpo masculino, esse estresse oxidativo pode originar-se da varicocele, torção testicular, diabetes, hiper ou hipotireoidismo, estresse, uso de drogas, obesidade, toxinas ambientais (pesticidas, álcool, cigarro, bisfenol A), radiação e infecções. Por isso é tão importante o homem adquirir hábitos de vida saudáveis.  

As patologias mais associadas às mulheres com dificuldade de engravidar são o envelhecimento ovariano, endometriose e SOP. Em todas elas é essencial a abordagem de estilo de vida, hábitos alimentares, sono, estresse, atividade física.

O fator idade para a mulher é algo que deve ser enfatizado, uma vez que ela nasce com uma quantidade de óvulos e ao longo de sua vida, vai perdendo. Hoje contamos também com o congelamento desses óvulos, sendo capaz de preservar a fertilidade feminina. Para as outras patologias associa-se tratamento médico à boa nutrição e correta suplementação de micronutrientes.

Preparando o Caminho para uma Gestação Saudável

Para que enfim ocorra uma gestação saudável o papel da nutrição pré-gestacional é significativo na jornada. Cuidados com a saúde, escolhas alimentares e estratégias específicas podem não apenas influenciar a fertilidade, mas também impactar positivamente o desenvolvimento fetal e a saúde futura da criança. É fundamental promover a conscientização sobre a importância da nutrição pré-gestacional, incentivando a adoção de hábitos saudáveis para casais que desejam iniciar nesta emocionante jornada da parentalidade.

Lembre-se de que esse processo requer apoio não apenas nutricional, mas também emocional de todos os envolvidos e o suporte em todas as áreas é fundamental para que a experiência seja positiva para todos os participantes.

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